segunda-feira, 2 de novembro de 2009

E o que a Yoga tem com isso???

Para quem dança Tribal Fusion é essencial. Para a Dança do Ventre tradicional, um aliada perfeita. E para estas, o texto pode parecer meio sem sentido, já que isso é tão óbvio. Mas não somente bailarinas lêem meu blog. E, acreditem! Ainda aparece gente que me faz esta pergunta...




Desde que iniciei minha carreira, inseri posições de yoga no aquecimento e com o tempo fui percebendo a importância e diferença que a prática pode conceder à nossa dança e à nossa vida. Creio que o principal seja o lado espiritual. Quando você se conecta com sua luz interior, você se conhece, entra em contato com o espiritual_ isso é INDEPENDENTE de religiões e rituais_ passa a meditar e entender o significado das coisas, a dança passa a ter outro significado. Após o nascimento da minha filha, tive problemas de saúde e fui obrigada a parar de “brincar” de yoga e adotar a prática consciente. Houve uma transformação completa na minha maneira de enxergar minha dança, minha carreira, e me vejo transformada na forma como lido com as pessoas. Bom, creio que o ponto principal seja esse: o contato com o espiritual antes do material. E repito, espiritualidade nada tem a ver com instituições. Falo do contato consigo mesma. A consciência do que somos ou somente estar no caminho para essa consciência.

Foto: Rachel Brice



O segundo detalhe importante é a presença. Quando praticamos os ássanas, passamos a SER o ássana, e não somente imitá- lo. Corpo, Mente e Espírito estão conectados. Isso proporciona equilíbrio, não somente no corpo, mas na forma como nos colocamos perante as situações da vida, e passamos a ser mais presentes e conscientes em todas as nossas atividades. Eu acredito que isso ajude na presença em cena na dança. Você sabe exatamente o que está fazendo, o porque e passa a SER a personagem. Pelo menos enquanto está no palco.





No plano físico, o yoga trabalha pernas, quadris, abdômen, peito, ombros, força nos braços, alinhamento e eixo. Trabalhamos força e alongamento simultaneamente. Estamos trabalhando todas as partes do corpo necessárias à prática da dança do ventre. O peito fica mais aberto, auxiliando na postura. Os braços ficam sustentados com menos esforço. Adquirimos força para realizar agachamentos e trabalhos de chão. Com abdômen fortalecido e região intercostal alongada, fazemos os movimentos com força e leveza, sem prejudicar a coluna. A dança também proporciona alongamento, força, equilíbrio e leveza, mas Yoga e Dança se completam, se complementam, e ter as duas práticas pode trazer um resultado rápido e eficiente. Precisa comentar mais?





Voltando a falar do plano espiritual e consciência... É com pesar que vejo tantos comentários pelas comunidades e bastidores afora, dentro do círculo da dança, sobre o quanto "tanta gente é fútil, vazia. Como existem bailarinas puxando o tapete umas das outras... Só pensam em dinheiro... Fazem qualquer picaretice por dinheiro, não possuem personalidade". Não, a intenção não é generalizar... e nem restringir esses "defeitos" às bailarinas somente. No fim das contas, o mundo é assim, e não somente o mundo da dança. Nosso sistema capitalista nos desconecta do espiritual, e a religiosidade está mais para fanatismo, e mais ligada a imposições tidas como corretas pela mídia e pela sociedade do que com uma verdadeira ligação com um Poder Maior. Onde entra a prática da yoga+dança neste ponto? A prática como caminho espiritual pode nos levar a um estado de consciência onde podemos encontrar o ponto onde o dinheiro é necessidade, e o ponto onde passa a ser supérfluo e começa a ganância. Não posso falar o que se passa no coração das outras pessoas, mas posso falar o que sinto no meu. Quando comecei a dançar profissionalmente, muita coisa se perdeu no que era minha dança em essência. Passei a lidar com contratantes exigentes, e essas exigências iam além do que eu era naturalmente. Passei a conhecer outras bailarinas, e muitas delas não pensariam duas vezes antes de me dar um bote, e isso foi assustador no início. Para mim, para minha vida pessoal, passei a entender que cada um tem seu papel dentro desse grande mundo da dança:





Não preciso ser organizadora de evento, professora, bailarina, bordadeira, cinegrafista, escritora, pesquisadora e especialista em tudo para me colocar neste mercado, entendendo que meu negócio é ensinar. Existem pessoas com diversos talentos em especial. O que gosto MESMO de fazer é ensinar. Preciso de condicionamento físico, de uma voz bem colocada, e de alto conhecimento técnico. Para que, então, me martirizar por não ter um corpo perfeito em sua forma, ou por não ficar bem com o corte de cabelo da moda? Entender isso foi essencial para minha colocação como profissional, e seria de grande valia se mais pessoas enxergassem isso. Fui entender somente depois da prática consciente de meditação que não preciso estar sempre de ouvidos ligados a tudo o que dizem, e nem acreditar em tudo o que leio...





Não estou aqui falando em milagres, até porque não acredito neles. Estou falando em esforço para se transformar, e no uso de uma filosofia milenar para complementar o que faz tanta falta no meio da dança. E da minha dança antes e depois da yoga. Fico feliz em hoje conhecer o Tribal Fusion, estilo que veio de encontro com o que acredito: personalidade no estilo, liberdade para criação e consciência corporal profunda! E que, hoje, consigo dizer com humildade: sou apenas mais uma praticante e amante desta Arte!