Olá!!!!!
Conforme prometido, estou aproveitando minha folga para escrever...
Vamos ver até onde vai a polêmica com este assunto... Espero que não gere polêmica, mas sim debate! Polêmica é cafona! Debate é construtivo e inteligente!
Antes desta parte, é importante que nos situemos no assunto... Eu comecei a ter minhas primeiras aulas de Dança do Ventre e a estudar por vídeos em 1994. Em 1996, quando consegui me fixar com uma professora, logo peguei algumas turmas e comecei a fazer shows, um pouco pela falta de profissionais na época, um pouco pela minha experiência anterior com jazz e teatro, que contribuíram para que eu encarasse logo um palco. Na ocasião, nós éramos PAGAS para dançar. Eu, como aluna, com 6 meses de aula, recebia cachês que variavam de R$ 50,00 a R$ 300,00 na época.
Entre 1994 e 1998, aumentou muito o número de professoras. Talvez por influência da criação dos eventos voltados à Dança do Ventre, talvez pela vinda de grandes nomes como Amani e Samara para ministrar workshops, ou, ainda, pela valorização do Real, que facilitou a compra de CDs, fitas K7 e VHS, acessórios e roupas importadas, o fato é que surgiram novas professoras e profissionais. E uma bomba: É o Tcham no Egito!!! Ai, que época negra!!! Eu vendi brincos dourados e xales de quadril como água, e dava aula adoidado, mas era triste saber que aquele xale ou cinturão iriam parar em cima de algum shortinho de lycra, e que algumas alunas iriam ralar o tcham com os passos que estudei com tanta seriedade... Recusar shows virou rotina:
Pergunta:
_ Você dança a Dança do Ventre do Tcham?
Resposta:
_ E a mãe, tá boa???
Porém, essa onda "deixou" de herança ainda mais preconceito e ainda mais "professoras" que aprenderam "tudinho" em 6 meses... Grupo ao qual não aceitei fazer parte. Preferi investir o que recebia das alunas que entravam na academia sonhando em ser a próxima "Feiticeira do Huck" em estudo. Não o "estudo" ao qual algumas se referem hoje, que está fácil, de mão beijada, mas estudar mesmo, pagar caro por um workshop e dar a ele seu devido valor, estudando minuciosamente cada detalhe dos passos, e investir paralelamente em cursos de anatomia, língua árabe, música, e outros que se fizessem necessários.
Porém, a realidade mudou. Após os primeiros eventos ligados à Dança Oriental, seguiram-se vários. Todo mês temos eventos à escolha, com um ponto em comum: Paga- se para dançar!!! E os cachês? Com o decorrer dos anos, se tornaram cada vez menores. E o fim de tudo chegou com a novela "O Clone". Durante a novela, foi tudo muito bom para quem já estava no mercado. Mas depois, o efeito foi pior do que o "efeito Tcham". Bailarinas por todos os lados, muitas suplicando por um lugar ao sol. E, assim, desvalorizando ainda mais nossa classe, pois nos tornamos, assim, consumidoras, e não prestadoras de serviço. Possivelmente, pela competitividade existente entre nós mulheres... Talvez... O que importa é aparecer! É estar por cima!!! Na frente! Todas precisam dos selos, e as que não conseguem criam outros selos. Foi num evento legal? Ah, precisa fazer um evento também!!! E os variados eventos viraram assim uma troca de favores: Você vai no meu, eu vou no seu, todo mundo fica feliz e ninguém precisa saber que você saiu falando mal da falta de higiene no banheiro que virou camarim, ou da filmagem medonhosa!!! Filmagem que você paga mesmo sabendo que a equipe de profissionais não é uma equipe de profissionais.
E os concursos? Hoje fica difícil para uma bailarina iniciante discernir entre um concurso sério, com um júri competente, de uma competiçãozinha fundo de quintal. Até porque o marketing pessoal, no nosso meio, fala mais alto do que uma efetiva competência e experiência profissional. Aqui, você é o que você diz que é, e vai do seu público acreditar ou não.
Existem SIM concursos sérios, profissionais competentes, "selos" e padrões originais, e equipes de foto e filmagem idôneas. O foco do texto não é discutir a qualidade de cada serviço, mas como a ACEITAÇÃO dos genéricos nos afeta. Carapuça veste quem acha que serve. Não estou aqui para ofender ninguém. Mas sei que muitos se sentirão ofendidos...
Há poucas semanas atrás, ocorreu um fato curioso: eu recebi um convite para dançar em um grande evento (não do meio da dança, um evento popular voltado à cultura). Fiz algumas exigências e, no meio das negociações, uma pessoa que estava ajudando na organização me ligou contando que o marido de uma bailarina ligou oferecendo ela, as alunas, música ao vivo e barraca com comes e bebes típicos tudo de graça. Eu respondi que eu não teria condições de bancar aquilo, que eu poderia oferecer se a cidade tivesse verba, e que eles fizessem o que achassem melhor. Ainda fui pessoalmente dar satisfação aos organizadores a respeito de ter saído do evento, por educação. Mas bancar tudo só para passar a perna na outra, isso eu simplesmente não faria nem que pudesse.
É claro que as pessoas de boa índole acharão isso absurdo, outras acharão que ela tinha que vender o peixe dela (mesmo pagando só para passar a perna nos outros grupos da cidade e não podendo de fato oferecer o que prometeu pelo telefone no fim das contas), e as que fazem a mesma coisa certamente se sentirão ofendidas com minha postagem...
Enfim...
O que fica depois de tudo isso é uma nova realidade. Quer dançar? PAGA! Não é da panela? PAGA! Não tá na moda? PAGA! Não é uma das poucas abençoadas com o kit "beleza+talento+técnica+juventude"? PAGA! Não interessa se você estudou, se você se dedicou, se você é profissional, se cobrar para dançar vai aparecer alguém que faça de graça, e se você fizer de graça vai aparecer alguém que pague!
O outro lado da moeda:
A dança exige anos de estudo. Eu tive a sorte de ter começado numa época na qual éramos poucas, e de ter uma vivência anterior em outras danças, que facilitaram a minha inserção no mercado da dança. Mesmo assim, já havia pago para ir com o grupo de ballet, de jazz e de dança moderna participar de festivais. Estar em festivais de dança e em concursos faz parte do aprendizado. Encarar o público faz parte do estudo, também. Estar em um evento proporciona visão e troca de informações.
Não acho nem saudável fazer apologia ao boicote às taxas de inscrição. Tem hora para tudo, e existe uma fase na qual devemos participar de eventos, e essa taxa deve ser encarada como investimento. Um evento bem feito, com palco, iluminação, camarim, boa localização, equipe de locução e som, boa estrutura, decoração e tudo o que uma estudante da dança precisa para mostrar seu trabalho sai bem caro. O trabalho dos fotógrafos e cinegrafistas que nos acompanham DEVE ser valorizado. Como uma bailarina vai passar a ser profissional do nada? Experiência no palco também faz parte do estudo.
Dois são os grandes erros: Um deles, a cobrança por algo que não está a altura. Se você paga 20 reais para dançar em um evento, espera no mínimo que se tenha uma água para beber e papel higiênico no banheiro! Muitas vezes, pagamos, e, ao chegar no local, dançamos em "palcos" improvisados com tábuas soltando, sem iluminação, sem som... detalhes que deviam ter sido incluídos no orçamento. No caso da minha crítica às equipes de foto e filmagem, se o trabalho está mal feito está roubando espaço dos verdadeiros profissionais e, ainda, desvalorizando nosso trabalho como bailarinas. E o segundo grande erro é confundir as amadoras com as profissionais. Profissional não tem que pagar! Profissional tem que ser respeitada e valorizada. Mas, muitas vezes, me deparei com "colegas" que estavam mais preocupadas em tentar se sentir um pouco melhores se fazendo aparecer como mais importantes que as demais.
Entra aqui um fator importante: RESPEITO! Nunca cito nomes aqui, nem uso meu Blog para fazer picuinhas nem jogar indiretas a ninguém... Então não vou citar os nomes aqui, hoje, nesta postagem, para falar das coisas boas... Mas quero dar alguns exemplos de pequenas atitudes que fazem a diferença!
Estive como convidada em um evento. Não recebi cachê, mas também não paguei. Mas a maioria das meninas que lá estavam pagaram. O local era pequeno. Mas a organizadora foi no camarim inúmeras vezes só pra saber se estávamos gostando, se estava tudo bem e se precisávamos de alguma coisa! Mesmo com a correria, manteve o sorriso!
Dancei recentemente num evento pequeno, e não teve cachê. Também não me foi cobrado nada. Fui me trocar. Enquanto me maquiava, alunas da organizadora levavam água e petiscos no camarim para as bailarinas. Não houve uma única falha no som, mesmo tendo sido feito em equipamento amador. Sem atrasos, sem stress, todas colaborando entre si!
Colegas de trabalho devem se respeitar. E não fazer de conta que a colega não é profissional o suficiente, e que tem que pagar para aparecer mesmo depois de 8, 9, 10, 15, 20 anos de estudo. Já passou da hora de nos unirmos, de encararmos que somos iguais, e que, independente de dinheiro e status estamos juntas por um bem maior: o amor à arte, à cultura, o incentivo à preservação de uma tradição, a alegria de levar a dança ao mundo e fazer dessa loucura toda um lugar melhor!
Para chegarmos a uma conclusão construtiva, criei a comunidade:
A foto é uma brincadeira.
E é com a brincadeira, com o senso de humor, que eu tento tornar tudo mais leve. Sempre.