domingo, 23 de agosto de 2009

Gótico X Tribal

Para quem estudo dança isso pode ser claro. Mas, acreditem, o número de leigos, aprendizes e bailarinas que são SÓ de dança do ventre tradicional ( não tribal) que acham que é tudo a mesma coisa é impressionante. Não, não que seja ruim, desde que perguntem, e algumas pessoas têm me perguntado isso. Então o texto não será muito interessante para quem já estuda Tribal.

Resumindo, o tribal Fusion é um braço do ATS ( American Tribal Style). Possui base de Dança do Ventre, funde- se com outras danças orientais e com técnicas de Popping e Locking ( que por sua vez tem sua origem no Street Dance). Por ser uma fusão em sua essência, permite incorporar outras danças, como cigana, indiana e flamenca, por exemplo, e estéticas diferenciadas, como o Gótico e o Vintage por exemplo. O figurino deve ter a ver com o tema ou a dança usados para a fusão. Vejam bem, não são todas as bailarinas que usam roupas pretas e tatuagens, como Rachel Brice, nem as calças com liga da Zoe Jakes, cada detalhe deve ser pensado.

Gothic Bellydance já é outro departamento! Neste mesmo Blog, eu disponibilizo textos mais completos, podem procurar no histórico e conferir! Esta foi uma dança criada por performers góticas para se apresentar em casas e festas voltadas para este estilo, baseada na Dança do Ventre tradicional e inspirada na estética e música góticas. Não é uma técnica específica, é um estilo pessoal. Onde está a confusão? Algumas bailarinas incorporaram o Tribal ao Gothic Bellydance, fazendo apresentações de Tribal com a estética gótica, surgindo assim o Dark Fusion e o Gothic Fusion.

Para esclarecer melhor sobre o Tribal em si, estou postando um texto de Shaide Halim, para quem já pedi ( e ela gentilmente autorizou a postagem).

CONHECENDO AS DANÇAS: ESTILO TRIBAL

O estilo tribal evoca uma história de milhares de anos sobre trajes, jóias, dança e música do Oriente Médio, com uma essência moderna, enfatizando a força do corpo e do espírito feminino e sua interação com o grupo.


Os "primeiros passos" dessa forma de dança foram dados na Califórnia, pela bailarina Jamila Salimpour. A Dança do Ventre tradicional foi acrescida de elementos das danças folclóricas orientais, como seus objetos e passos característicos, e o espírito comunitário das tribos.


Trocaram o vestuário do estilo "cabaré" (as conhecidas roupas de lantejoulas!) por um visual étnico. Aliado à isso, vinha o novo estilo de ensino, onde Jamila refinou a técnica da Dança do Ventre usando métodos semelhantes aos do Ballet Clássico. Sua companhia de dança, Bal Anat, popularizou a nova tendência, principalmente os trajes étnicos. A dança tinha um caráter interpretativo, com uso de acessórios tradicionais das danças folclóricas ou uma releitura de lendas orientais, como por exemplo, a nossa conhecida Dança da Espada. Esta dança não é reconhecida nos países árabes como folclórica, mas é conhecida por todas as bailarinas de Dança do Ventre graças ao Estilo Tribal.


Nos anos setenta, notáveis dançarinas do gênero fizeram com que este estilo ganhasse o país, entre elas Masha Archer, discípula de Jamila. Nos anos 80, o estilo ganhou características muito particulares, que foram definidas quase como "padrões", com o surgimento da trupe Fat Chance Belly Dance. Carolena Nericcio, diretora do grupo, foi aluna de Masha e dá todo o crédito pelo surgimento desse novo estilo à Jamila, embora seu grupo seja, hoje em dia, a maior referência do assunto nos EUA. Carolena misturou a precisão técnica de Jamila, o caráter étnico do Bal Anat e aplicou seu sistema de improvisação, criando assim uma nova forma de dança.

O Estilo Tribal Norte-Americano

Precisão dos movimentos, trajes muito característicos e o espírito de irmandade tribal são a marca registrada desse gênero. Ritmos fortes e bem marcados, com muita percussão, solos de derbake e daffs, os sons "Ghawazee" (as ciganas egípcias, a fonte maior de inspiração dessas trupes), a fusão entre diversos estilos musicais, por vezes com um toque ocidental, dominam o padrão musical que acompanha esta dança.

O visual do Estilo Tribal parece autêntico porque foi inspirado em várias tribos e povos nômades do Centro e Norte da África, Índia, Paquistão e de várias outras regiões do Oriente Médio, adaptadas às necessidades das dançarinas, que precisam de roupas que lhes dê mobilidade e conforto. O uso freqüente de snujs em suas performances também caracteriza o estilo norte-americano. Eles servem não só para demonstrar as habilidades técnicas das dançarinas, mas também para auxiliar a marcação dos ritmos. Além deles, algumas bailarinas fazem uso de chocalhos kuchis (chamados Kulkaal), atados aos pés, como as dançarinas indianas ou as ghawazee egípcias, também para demarcação rítmica. Algumas trupes utilizam outros acessórios característicos de outras danças orientais, como pandeiro, bengala, jarros, cestos, taças, espadas, punhais, para realizarem performances que são chamadas tribais interpretativas.

O Fat Chance Belly Dance, por ser o pioneiro no estilo, é o mais conhecido e reverenciado grupo tribal da América, mas há outras grandes trupes espalhadas pelos EUA, como a Awalin Trupe, Read my Hips, Hahbi-Ru, Gypsy Carvan etc. O Estilo Tribal Americano já atravessou oceanos e chegou à Alemanha, Suíça, Austrália, Japão, França e Inglaterra, e chegou ao Brasil, em 2001, por meio da Cia Halim Estilo Tribal, a primeira trupe desse estilo por aqui , com método de ensino e de dança próprios, denominado estilo tribal brasileiro.

As novas tribos

Com a evolução e propagação da Dança Tribal na América do Norte, novas cias. de dança auxiliaram o processo de formação do Estilo, dando, cada uma, seu toque pessoal às características tradicionais do American Tribal Style. Surgiu então, no início dos anos 90, o que hoje ficou conhecido por Neo Tribal. O Neo Tribal seria a modernização do Estilo Tribal Americano do Fat Chance Belly Dance. Bailarinas formadas pelo método de Carolena Nericcio e suas discípulas resolveram buscar novas formas de utilização das técnicas do Estilo Tribal, sem uma rigorosidade padronizadora. Cias. mais tradicionalistas no América Tribal Style recusam-se a utilizar recursos coreográficos e todas as suas performances são livres ou reguladas pelos métodos de sinalização, gerando a Improvisação Coordenada.

Cias. como a Awalin Dance Company de Zia Ali, na Geórgia, Atlanta, traduzem bem este espírito Neo Tribal: aliam às técnicas de Improvisação Coordenada as possibilidades artísticas coreográficas. Ademais, além do uso dos acessórios da dança do ventre e danças folclóricas orientais, buscam inovações não apenas em acessórios, mas na utilização de movimentos oriundos de outras danças, além das habituais, como o flamenco, a dança indiana, danças persas, trcas, paquistanesas, e de regiões até mais longínquas como, por exemplo, o Tajisquistão.

Estilo Tribal Brasileiro

A Cia Halim aderiu a esta nova corrente, a de modernização do estilo, buscando em diversas formas de dança, até mesmo no Ballet e na Dança Contemporânea uma nova forma de dançar e se expressar.

Além disso, adotamos uma postura de valorização das nossas raízes, inserindo no contexto elementos da nossa cultura popular brasileira, com utilização de ritmos e movimentos nacionais, como o côco, maracatu, frevo, caboclinho, tambor de crioula, deixando o estilo tribal com uma nova cara, uma nova roupagem, que vai desde os passos das coreografias à musicalidade e figurinos.

Mas o diferencial do estilo brasileiro é uma maior homogeneidade da fusão. Um trabalho coregráfico nesse estilo aborda, com maior detalhamento, cada dança que trabalha. Exemplo: não é uma dança onde a dança do ventre é o carro-chefe e as demais modalidade aparecem em pequenas doses, como acontece no estilo norte-americano. Uma coreografia de estilo tribal brasileiro pode apresentar muito flamenco e pouca dança do ventre, além da dança indiana. Ou dança indiana e dança do ventre bem misturadinhas, com um pouco menos de dança brasileira. Isso porque o processo de criação coregráfica segue exatamente o que pede a música. Numa música aflamencada, é normal que o flamenco seja o destaque, ou numa música bem misturada, é normal que se veja, em doses iguais, várias danças, sem que a dança do ventre seja sempre o destaque, como acontece no tribal norte-americano.

Técnica de Ensino

O Estilo Tribal é reconhecido por sua precisão. Os movimentos são treinados continuamente até que sua execução esteja adequada, aliado a um trabalho de construção muscular. Muitas dançarinas tribais estão envolvidas com outras formas de movimentos, como Yoga, Dança Indiana, Flamenco, Jazz, Dança Moderna ou Ballet, e isso contribui para que as técnicas dessas outras atividades contribuam para a dança do ventre. Além da repetição contínua dos movimentos, técnica comum ao Ballet Clássico, a postura da dançarina é essencial para que se caracterize o estilo. Sempre altiva, braços alongados, tem algo que nos faz lembrar outra dança com fortes influências ciganas, o Flamenco.

Mas essa postura corporal não é por acaso. Professoras de dança do ventre tradicional testaram e comprovaram que os movimentos ondulatórios no tribal são muito maiores que na dança do ventre normal. A postura tribal dá maior dimensão ao movimento, mas também exige mais força. Se você aplicar uma determinada força para realizar a mesma ondulação, na posição normal e na posição tribal, sentirá que na tribal o trabalho abdominal será mais intenso e o efeito do passo melhor visualizado. É preciso pensar em manter a região abdominal contraída. Não é "encolher" a barriga, e sim trabalhar a contração através do controle do diafragma, associado ao controle da respiração. E é preciso capacitar a musculatura, para que se tenha domínio dos movimentos sem perder a postura. Também é imprescindível alongar os músculos freqüentemente.

Para obter movimentos de maior efeito, alia-se o jogo de quadril ao emprego da força dos músculos, como para "jogar" os quadris mais longe nas batidas, obter um shimie estático ou rotacional de maior efeito, deslocamentos em shimie com velocidades maiores sem perder o tamanho do movimento, oitos que se distanciem mais ainda do eixo natural etc. Alguns truques de posicionamento das pernas são usados para ampliar esses movimentos de quadril e também servem como trabalho muscular.

Provavelmente vai ser mais difícil realizá-los no começo, assim como as ondulações na nova postura, mas isso acabará beneficiando a bailarina, que com o tempo terá um corpo muito melhor preparado para enfrentar longas horas dançando. Além disso, numa aula de Estilo Tribal você não aprende apenas os movimentos da dança: cada passo é estudado juntamente com suas possibilidades dentro da performance e suas diferentes combinações.

Técnica do Estilo Tribal Brasileiro

Ainda falando em técnica, a técnica da dança tribal também é uma big fusão. Com uma postura corporal diferenciada, os movimentos ganham novos contornos. Trabalha-se força e resistência, alongamento, flexibilidade, capacidade respiratória, muito, muito, muito giro. Na Cia Halim, nossos movimentos são direcionados de acordo com o estudo da biomecânica da dança, em parceria com profissionais da área de saúde (fisioterapia, ortopedia, pneumologia). Para desenvolver movimentos grandes, com vitalidade, sem prejudicar o bailarino que o executa.

Nos nossos cursos, o aluno aprende movimentos de diversas modalidades de dança, exatamente como estas são realizadas em sua dança tradicional, como, por exemplo, a dança do ventre, o flamenco, a dança indiana, o ballet (para os muitos giros!), as danças brasileiras, o contato-improvisação, etc. E uma vez que o aluno compreende que cada dança tem sua intenção de movimento diferenciada, ou seja, movimentos que parecem ser semelhantes, em cada dança são realizados de uma maneira diferenciada, ele é capaz de mistura-los em sua composição coreográfica tribal sem com isso perder a essência da dança aplicada na fusão.

xemplos: a intenção de uma batida de pé na dança indiana é muito diferente da flamenca, mesmo quando os movimentos parecem iguais. Em cada uma a intenção do movimento segue um rumo diferente, parte de uma musculatura diferente etc. Não adianta fazer um paseo flamenco como se fosse um deslocamento da dança do ventre, pois cada um trabalha com uma postura própria. Então, para saber utilizar danças diversas em uma só dança, é preciso saber que cada uma tem uma forma própria de realização dos movimentos. Assim, a fusão fica coesa e realmente é possível se compreender que se trata de uma fusão de culturas, e não apenas de movimentos feitos aleatoriamente, como um arremedo mal executado de danças variadas.

Desvelando o Estilo Tribal

1. O Estilo Tribal é chamado por muitos nos EUA como fakeloric, que seria falso folclore. O figurino desta dança, e as várias referências em movimentos de diversas manifestações folclóricas de origens variadas, faz com que muitos desavisados pensem que se trata de uma manifestação folclórica original. MAS NÃO É!!!! Justamente por ser uma fusão de danças, apenas os movimentos, acessórios, elementos e peças do vestuário são utilizados, não se mantendo tradições. O que seria até mesmo um desrespeito com as culturas envolvidas. Portanto, são estilizações e não reproduções fiéis. A própria mescla dos movimentos de culturas diferenciadas nos impossibilita de manter qualquer forma de tradição.

2. Homens dançam!!! Sim, nos EUA há grupos que não aceitam homens dançando por uma opção de querer trabalhar apenas entre mulheres, mas há trupes que permitem que homens participem e há trupes apenas formadas por meninos. Isso varia de acordo com o sub-estilo da trupe dentro do Estilo Tribal. Há grupos que preferem centrar suas pesquisas na Dança Oriental e orientam seu trabalho de acordo com as bases desta dança. Mas grupos com membros masculinos não são vistos como "estranhos" ou renegados. A Bal Anat, a primeira trupe tribal do mundo, criadapor Jamila Salimpour no início dos anos 70, tem homens no casting, assim como outras, como a Habi Ru, embora a movimentação masculina não seja igual à feminina.

3. Na dança tribal trabalha-se a técnica de diversas danças de diversas culturas, portanto, é uma dança neutra em relação à tradições, como já foi citado anteriormente. Trupes de dança tribal enfatizam o espírito de união, o grupo , a dança comunitária. Ponto. Não há referências à mistificações, simbologias ou religiosidade que possa fazer parte de alguma dança utilizada no quadro de fusões. Se uma determinada trupe resolver direcionar seu trabalho com um caráter diferenciado será uma opção única e exclusiva daquele grupo.

4. Grupo. União. Comunidade. Palavras-chave que definem o estilo. O nome Estilo Tribal já vem, obviamente, de tribo. Até bem pouco tempo atrás não existia dançarina de tribal, apenas trupes tribais. Hoje em dia isso vem se modificando, mas ainda é muito mais bonito de se ver trabalhos em conjunto, sejam duos, trios ou grandes grupos.

5. Último e acho que mais importante tópico: dança tribal é para todos. Homens e mulheres, de qualquer idade, raça, credo e biotipo são bem vindos nessa modalidade. Não é preciso ter corpo de sereia, nem ter cabelão, beleza padrão, nada disso. Basta ter a técnica apropriada e amor pela dança. Sim, pois só com amor e dedicação o bailarino consegue alcançar a técnica ideal. Nada cai do céu, nada é fácil, é preciso esforço para dançar!

( Shaide Halim)

Para saber mais:

http://tribalnobrasil.multiply.com/

http://www.shaidehalim.blogspot.com/

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Ariellah no Brasil: UM CHUTE NA CARA DO PRECONCEITO


Sendo este um espaço voltado PRINCIPALMENTE ( e não somente) para o Gothic Bellydance, nada mais propício do que postar minhas impressões a respeito do workshop de Ariellah Aflalo, a mais reconhecida bailarina dentro do estilo_ segundo ela, Dark Fusion, um dos braços do Gothic Bellydance.

Aviso: são impressões pessoais, nada além disso. Minhas opiniões não são verdades absolutas, bem como nada é.


Confesso que Ariellah nunca foi minha bailarina preferida. Sim, reconheço sua técnica e talento, já gostava e admirava sua dança, me interessei por fazermos parte do mesmo estilo... mas nada assim... de babar, sabe? No final das contas, tudo conspirou a favor para que eu estivesse lá no workshop e fui fazer sem grandes pretensões.

Até então, eu convivia com os narizes torcidos, caretas de reprovação, comentários depreciativos e preconceitos acerca do Gothic Bellydance, suas derivações e bailarinas. E fui com um certo receio de, de repente, surgirem fórmulas mágicas para uma técnica que não existe. Dança do Ventre Gótica não tem técnica específica, e sim, eu e algumas amigas fizemos este questionamento. Como ia ser? Gelei na hora que ela entrou com cara de poucos amigos: "Pronto, só falta ela ser poser, fudeu!". Eis que ela se senta no palco e diz "Oi!" ( assim, em português mesmo), e continua em inglês: " Estou muito feliz por estar aqui..... mas.... Perderam minha bagagem, estou muito muito triste..."

Pronto, o gelo foi quebrado, e a cara de malvada totalmente explicada. Ela começou a mostrar as roupas enormes que a Sharon emprestou ( a Ariellah é mignon e a Sharon Kihara tem mais ou menos 1, 80m.), e esses 5 minutos foram o suficiente para que eu me apaixonasse completamente por ela!


A aula começou com condicionamento baseado na Yoga, o que me deixou muito feliz porque, além dela demonstrar conhecer o assunto era bem parecido com o que dou em aula... Escolheu exercícios bem específicos para trabalhar o que usamos na dança. Seguiram- se exercícios de isolamentos e treinos, putaqueopariu, vai fazer movimento difícil assim lá na China!!! Desci rapidinho do meu salto de mil anos de dança, satisfeita por ter sempre o que aprender! Depois do workshop, na hora da foto, um elogio... e me trava a língua! Fiquei sem voz, sem conseguir falar nem em inglês nem em português, e ela perguntando para minhas amigas: "Alguém aí fala inglês?"

Segundo dia... nada dela comentar sobre Gothic. Tentei falar com ela mas não deu, não fui a única que ficou encantada com sua figura singular. Bom, eu só queria saber se a bagagem foi encontrada e concluí que sim: ela estava com roupas adequadas ao seu tamanho....



Novamente, os treinos, mas mais rápido, só para aquecer. Nesse dia, ela começou a trabalhar nossos braços. Não só a técnica, mas expressão, e parava para vermos se nossos braços estavam como queríamos. Muito legal isso. Ela deu uma pequena coreografia. Nada de estereótipos nem teorias góticas. Ela colocou aqueles braços que são sua marca registrada na coreografia, que nada mais são que braços de dança com o jeito dela, com seu estilo... Suavidade, docçura e delicadeza soavam em cada palavra. À noite seria o show de gala. Ah, o show.... um capítulo à parte. Surpreendentemente, ela foi o destaque da noite. Não que ela não mereça. Merece, e muito, cada olhar, cada palma, cada suspiro, cada lágrima, cada coração acelerado... O que me deixou espantada foi ver ali uma representante nossa ( me enquadrando como performer gótica/ dark) sendo ovacionada pelo crítico público da dança. Os comentários?

"Ela é uma atriz! Uma verdadeira artista!"
"Tão doce no trato pessoal e tão forte em cena... Como pode?"

Esse foi o comentário geral do público que a aplaudiu de pé por intermináveis minutos, enquanto ela voltou ao palco tímida, amparada por Mardi Love e Sharon Kihara.







No último dia, sala lotada... Quem ainda não tinha se rendido e se interessado estava lá. Foi instalado um projetor de imagens. Medo! Ela tinha prometido falar sobre Gothic.... será que ia se aventurar a explicar o inexplicável. Não. Aula teórica sobre composição coreográfica. Maravilhosa, completa, consciente, coerente... Deu expressão, idéias para dispor bailarinas no palco, contagem musical com leitura de nuances, e o vídeo exemplificava como fazer o desfecho do show... Respondeu educadamente e brevemente os questionamentos sobre o Gótico. Definiu sua dança como Dark Fusion, e deixou claro: "Não posso ensinar ninguém a ser gótico. Busquem o sentimento dentro de vocês. Eu até gosto que me imitem, mas não fica natural." Ficou a mensagem de que temos que tirar o que somos e queremos mostrar de dentro de nós, e não buscar isso nos outros. Mensagem esta que certamente não foi compreendida por todos...

As mesmas pessoas que outrora criticavam o estilo se tornaram adeptas, e mais e mais bailarinas estão passando a imitá- la, mesmo ela dizendo que não fica natural...

Ah, sim! Faltou mencionar que ela fez o workshop da Mardi Love lá no meio da gente, de boa... Na maior humildade...

Impressão cada um tem a sua. Eu costumo ver tudo de maneira muito complexa e profunda. É uma pena que muitos estejam agindo assim: "Ela é cool! Vamos copiar!!!", mas coisas superficiais tendem a ser passageiras, então não vamos nos prender a isso... Para mim, a passagem de Ariellah pelo Brasil teve significado especial. Ela mostrou que góticos não são ETs carrancudos, mal- humorados, esquisitos e malvados com seu jeito doce de tratar as pessoas e a preocupação conosco_ chegou a imprimir o conteúdo das aulas p/ que a gente não precisasse anotar. Mostrou que bailarinas não são deusas intocáveis, elas perdem a mala, mostram o dedo do meio e se emocionam. Mostrou que o Dark Fusion não é uma coisa inventada nas coxas, um tribal mal feito como muitas o tratam, com sua técnica impecável em todos os sentidos. Cada atitude dela mostrava profissionalismo e consciência. Uma verdadeira lição para nós, que muitas vezes deixamos o ego falar mais alto que o bom senso. Todo este conjunto ( sem contar sua autenticidade) concede a ela algo qçue acredito que todas nós, artistas da dança ou não, buscamos: luz e brilho próprios! Um brilho tão especial que tive que esperar um mês para escrever sem tanta carga emocional.

Para todos aqueles que criticavam o Gothic Bellydance sem conhecer direito ( para quem conheceu e continua não gostando dou a mão), para todos que divulgaram uma dança mal feita, sem alma e sem técnica como sendo GBD, para todos que riram e depreciaram nossa classe... Bom... Quem esteve lá conhece uma boa resposta...

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Tempo de Dança: QUANTIDADE OU QUALIDADE?

Sempre achei que isso um dia fosse acabar: pessoas competindo indiscriminadamente tempos de dança, em nome do velho dilema de "quem é a melhor". TUDO ERRADO!!! Do pensamento primordial aos meios ( muitas vezes mentirosos) usados para mencionar tal tempo.

Um dia desses, li uma pessoa mandando outras enfiarem seus anos de dança no *, e parei para pensar no que ela queria dizer_ para mim, pessoas inteligentes e educadas querem dizer muito mais nas entrelinhas quando se submetem a usar agressões.

Afinal, de que vale a porcaria do tempo de dança do ventre????? Conheço uma historinha beeeem exagerada que resume o que acontece com frequencia: uma pessoa fez anúncios internet afora dizendo ter experiência de "x" anos. Um ano depois, a criatura me repete a propaganda com quase o dobro do tempo de dança em anos e não satisfeita cita as profissionais de um único evento internacional como suas professoras, não mencionando que foram workshops. Coitadas das alunas... Brasileiro em geral é um bichinho que se acha malicioso mas é inocente que só. Ninguém foi investigar para saber que todas que pagam recebem o bendito certificado e tiram fotos com as professoras internacionais, independente do aproveitamento do curso... E nem sabem que para se aprender dança são necessários anos de estudo... Bom, imagino que a pessoa em questão tenha estudado tanto a dança que se esqueceu da matemática, afinal x+1= 2x, não?

Foi um exemplo bem exagerado, e até cômico, mas é comum acontecer... Ainda piores são as pessoas que juram ter feito aulas em escolas "conceituadas", sem imaginar que às vezes as mesmas pessoas para quem mentem são ou foram alunas do citado lugar, tsc tsc...

Esta é ao mesmo tempo uma lacuna deixada pela falta de regulamentação no nosso meio ( outro assunto chato que nunca acaba e nunca chega a uma solução positiva) e fortalecida pela falta de interesse e critério do próprio público ( alunas). A maioria das mulheres que procuram a Dança do Ventre não estão preocupadas com a fonte do aprendizado de sua professora desde que ela ensine a chacoalhar as cadeiras, e das poucas que se importam muitas ainda acreditam se você disse que esteve no Egito e se impressionam com suas mentiras mesmo se você nunca provar nada. Poucas dão uma de louca e vão pessoalmente na "tal escola conceituada" verificar se fulana realmente estudou lá.

Sobre regulamentação, divagar a respeito pode render um Blog inteiro, então deixemos para outro dia...

Eu fico intrigada quando presencio pessoas batendo no peito que são da "velha guarda". Por que se importam tanto com isso???

Quando comecei a dançar havia poucas professoras, todas muito longe da minha cidade e a valores inacessíveis para mim. Quando finalmente arrumei uma professora, tive que aprender coisas absurdas que nada tinham a ver com a cultura árabe, além de adquirir um deslocamento de rótula e uma inflamação séria na coluna. Depois, fui fazer aulas em uma escola melhor. Aprendi muito e comecei a dar aulas. Mas anos depois, a própria escola mudou o estilo e até a forma de ensinar alguns passos. Não existe "x" tempo de dança. Quem não se atualiza continua fazendo coisas que caem em desuso, sem contar que um dia o copo se esvazia. Se não voltar na fonte para buscar mais água, esse conhecimento, que pode estar ultrapassado mas ainda é conhecimento, fica estagnado... Então pensemos em tempo de dança e tempo efetivo de dança.

Em contrapartida às pessoas com 20 anos de dança que não se atualizam, temos profissionais super talentosas desabrochando aos 3 ou 4 anos de dança. Então, isso importa? Mesmo? Que tal em vez de vivermos em uma guerra onde jogamos nossos tempos nas caras umas das outras tomarmos ATITUDES POSITIVAS para o bem da dança?

O que é o TEMPO EFETIVO? É o tempo que você realmente estudou e praticou dança. Se você fez dois anos em 1989 e um workshop agora, você não tem 20 anos de carreira. Você tem dois.

Estou desmerecendo as antigas? Claro que não! Não deixem em suas cabeças espaços para más interpretações. Ocupem os neurônios com coisas positivas! Não estaríamos aqui sem as pioneiras da dança. Mas, infelizmente, o famoso " aumento da auto- estima" funciona, e de forma desequilibrada para quem não tem maturidade emocional. Achar que pode dar aulas só porque aprendeu a fazer um movimento difícil é comum e responsável por muita caca na dança. Tempo de dança não se joga na cara das pessoas. Tempo é uma coisa que passa, acaba, e prefiro utilizá- lo dançando, e fazendo minha carreira, experiência e história. O mundo gira, e só esperar o tempo passar não faz bem nem para o indivíduo, nem para a Arte. Que tal, em vez de perder "tempo" caçando até o ballet do jardim da infância para competir com as pioneiras, respeitá- las e estudá- las para um dia chegar lá?

Sei que, infelizmente, algumas pessoas se sentirão ofendidas em vez de entender a mensagem desta postagem. A intenção não é essa, como muitas vezes acontece... Mas se postei é porque é fato, e cabe a cada um mudar a si mesmo...

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Aulas de Gothic Bellydance

"Julgue um homem pelas suas perguntas, não pelas suas respostas."
( Voltaire)


Voltando ao tema Dança do Ventre Gótica... Como já deu para entender, me apresento no estilo há muito tempo ( desde a época em que nem tinha nome, muito menos as várias definições e vertentes que temos hoje) e fui uma das poucas da cena a se profissionalizar. Credo! Soou arrogante! Para mim é estranho falar assim >.<
..... mas isso se faz necessário: afinal, de onde eu tiraria tanta informação? Conhecimento ou a gente bebe em alguma fonte, ou quando não tem fonte cria e aprende na prática!

Voltando ao foco: é claro que, desde o início, fui muito procurada para ministrar aulas e workshops. E sempre fui muito clara e honesta. Nunca vendi um produto que não existe. Minha resposta SEMPRE foi: "Este é só meu estilo. Mas posso te ensinar a Dança do Ventre."
Claro que muitas não ficaram, mas creio que alunas vem e vão por "n" motivos, e que esses motivos nada tem a ver com o fato da aula ser de DV tradicional.
Em um momento mais recente, a questão foi levantada por algumas colegas, a procura aumentou com o modismo e senti a importância de começarmos a levar o assunto mais a sério.
Como já expus em algumas comunidades pelo Orkut afora, esse tipo de aula não existe simplesmente porque não deve existir? Por que isso? Sempre me questionaram isso, tanto amigas que acham que eu preciso de grana e devia me aproveitar do mercado, quanto picaretas que querem minha aprovação com direito a sugestões de como deve ser essa aula. Mas as respostas são tão obvias....

1- ) Vamos pensar primeiramente na formação em dança, em várias danças. Quanto tempo você fica no Baby Class ou em uma classe preparatória antes de começar o Ballet Clássico propriamente dito? Por quanto tempo você estuda Talas antes de dançar o Kathak ( danã indiana)? Quanto tempo de base de Dança do Ventre é necessário antes de se jogar no Tribal? Então raciocinem: mesmo se eu montar uma classe gótica, vou precisar dar aula de dança do ventre tradicional!!!

2- ) Fora essa primeira etapa, eu acredito fielmente que quando queremos quebrar regras e conquistar liberdade, precisamos nos aprofundar no que já é regra. Vão - se aí mais alguns anos se aprofundando em cultura, folclore, teoria, filosofia , isso se não surgirem outros cursos no meio do caminho.

3- ) O principal, que vocês podem conferir por onde passo postando ( detesto o tipo de gente que diz uma coisa e depois se contradiz conforme lhe convém) QUE NÃO POSSO ENSINAR NINGUÉM A SER GÓTICO! Gótico e Dark não se explica e não dá para entender. Ou você é ou não é e ponto. Os seguidores de modinha somente consomem a estética e "viram" mil coisas conforme lhes é conveniente. Se você não é gótico, há uma possibilidade de fazer um trabalho caricato e superficial. Quem é gótico é e ponto, e não tem nem como se livrar disso, por mais que fuja dos rótulos e estereótipos.

O que posso dizer depois de tudo isso? Mesmo assim, sempre sobraram questionamentos, não só por parte de outrem, mas até da Zahrah p/ Zahrah. Às vezes posso soar inflexível, mas é apenas uma lealdade radical. Tenho a mente aberta e estou sempre disposta a mudar de opinião sobre o que quer que seja. Por sugestão de uma amiga, esperei passar o workshop da Ariellah para ouvir o que ela teria a dizer...

Para surpresa geral e meu total espanto, ela repetiu enfaticamente tudo o que eu sempre falei. Meu sentimento foi uma verdadeira "farmácia", ao mesmo tempo eu pensava "Eu estava certa, eu não disse? Eu te disse, eu te disse!", com o orgulho por nunca ter me rendido ao oportunismo barato, a satisfação de poder calar a boca de todos que não me ouviram, a certeza de estar no caminho certo, tudo isso meio abestalhada por ser privilegiada com uma profissional tão séria e competente, ao mesmo tempo doce e hipnotizante. Engoli tudo sem gelo e limão antes de concluir este artigo.

Ela disse coisas como "Seja você mesma", "Não posso ensinar ninguém a ser gótico" ( foi essa frase que me tirou da órbita terrestre, pq é exatamente o que eu sempre digo desde antes de conhecer o trabalho dela), "Busquem o sentimento dentro de vocês, pode ser tristeza, pode ser 'oh, perdi meu cachorro', ou a alegria....", "Eu vejo pessoas me imitando, ok, até gosto, mas não é natural..."

Este é o sentido de tudo. Não dá para ensinar ninguém a ser gótico ou dark, posso no máximo ensinar as técnicas de dança do ventre com a responsabilidade de fazer cada aluna entender como vincular a técnica à sua alma ou àquilo que ela quer passar. E com respeito pelo que cada uma é.

Uma solução levantada nessas discussões foi que workshops seriam legais. Mas agora entramos em outra questão: QUEM pode dar esses workshops? Então espero consciência na hora de escolher com quem vocês vão fazer esses workshops: pensem bem, quantas profissionais competentes temos na cena? Sejam responsáveis com a ARTE e com seus próprios corpos!!! Investiguem se a pessoa é profissional, em segundo lugar se tem experiência em GBD ou se mente descaradamente. Usem o bom senso!!!

Para os picaretas de plantão que esperavam uma fórmula mágica... sinto muito dizer que ela não existia antes da Ariellah passar por aqui... e que ela continua não existindo.

sábado, 8 de agosto de 2009

TUTORIAL DREAD FALLS


Peço uma pausa nos artigos sobre GBD para atender a pedidos!
Espero que ajude!

Muita gente questiona o motivo pelo qual eu faço tutoriais, ajudando a criar "concorrentes" e "perdendo" vendas. São dois motivos principais, o primeiro é meu lado professora, tenho isso em mim, sou uma pessoa que tem prazer em dividir, somar e multiplicar conhecimento. O outro é que eu penso assim: se uma pessoa quer comprar o meu trabalho ou não tem dom para fazer, ela VAI comprar, assim como quem está disposto a fazer suas próprias peças vai fazer e ninguém vai impedi- las. Não é pecado nenhum fazer suas próprias roupas e acessórios. Para esse segundo grupo não vejo mal em dar uma forcinha!

Boa sorte!

Dread Falls_ Tutorial da Zahrah

Material:
- um novelo de lã comum, de jumbo ou retalhos de malha cortados em tiras ( este eu fiz com lã);
- rolinhos de linha Cléa de várias cores ou lã comum ( desde que se use o mesmo material do começo ao fim do trabalho, tanto faz);
- um elástico de cabelo ou piranha;
- fitinhas de cetim, miçangas, plumas, o que sua imaginação mandar!

Passo a Passo:

1- Primeiro, improvise um suporte com uma vareta que possa ser removida ( eu usei uma agulha de tricô grossa, daquelas de cachecol, presa com elásticos nas duas pontas, no bercinho da minha filha. Você pode fazer o mesmo numa cadeira, cabeceira da cama, grade da janela, etc....)


2- Defina o cumprimento que você deseja e comece a enrolar a lã entre suas 2 mãos até ficar da espessura desejada. Se você preferir o jumbo, não precisa enrolar, é só separar a porção desejada. Deixe as duas pontas soltas para o mesmo lado.


3- No caso de utilizar lã, corte do lado onde ficaram as duas pontas. Fica um lado com a lã dobrada, outro cheio de pontas.


4- Coloque a parte onde os fios ficaram dobrados n
o suporte, divida em 3 porções iguais e faça uma trança.
5- Dé um nó bem apertado com o material que você escolheu para ficar por cima ( a linha Cléa por exemplo), deixe uma ponta com uns 3 cm. Dê várias voltas e um novo nó com essa ponta que você deixou sobrar. Repita o procedimento, mas agora em vez de cortar as pontas continue enrolando, descendo pela trança. Mantenha a mesma tensão para ficar bonito. Se você está começando agora, sugiro que faça os primeiros com a lã de dentro e de fora da mesma cor, e que use lã até pegar o jeito porque a linha é mais difícil.

Você pode optar por fazer inteiro da mesma cor, só enrolando até o fim. Para fazer de várias cores bem divididas, como o da sua esquerda, espere sobrar 2 ou 3 cm de linha, dê um nó com a mesma cor e continue enrolando até sobrar um pedacinho e repita o procedimento para toda troca de cor. Para fazer como o da direita, com as cores misturadas, insira a nova cor antes de acabar a cor anterior e enrole como os fios juntos.


6- Quando chegar no fim da trança, dê um nó com outro pedaço de linha meio cm. antes de acabar a parte das linhas enroladas. Dê várias voltas por cima e um novo nó. Pode usar termolina para ajudar a fixar. Corte tudo o que sobrar como mostra a figura.


ÚLTIMO PASSO: Faça vários no mesmo suporte, e inclua trancinhas, fitas de cetim, coisas que combinem com você, o que você desejar. O que vale agora é a imaginação. Depois tire tudo da agulha passando para uma fitinha. Prenda a fitinha numa piranha, elástico, ou use com grampos.

PEÇA PRONTA! BOA SORTE!!!












terça-feira, 4 de agosto de 2009

O Gothic Bellydance na Minha Vida




O gótico chegou para mim antes da dança do ventre. Eu comecei a fazer ballet clássico e jazz aos 9 anos de idade. Não cheguei a me formar, minha família não era a favor da dança, mas o pouco que eu conseguia praticar já foi o suficiente para a dança tornar- se parte de mim.


Muito cedo, com 12 anos, eu já me vestia de preto e ouvia som gótico. E foi com essa bagagem que trouxe co

migo desde a pré- adolescencia que eu comecei a pensar na possibilidade de us

ar o que eu conhecia junto com o que eu gostava para alguma coisa que me satisfizesse e ao mesmo tempo entretesse as pessoas. Mais tarde, por volta de 1993/ 1994, eu e uns amigos formamos um grupo de performances teatrais chamado Atmosphere ( ai, será que alguém aqui lembra disso? Acho q não, rs...), durou pouco tempo, nossa idéia era utilizar músicas góticas como pano de fundo para encenações com mímica e dança, e foi aí que a dança do ventre entrou de vez na minha vida.

Agora começa a parte que REALMENTE interessa.
Fui procurar aulas, mas fui proibida pela minha família. Comprei uma fita de vídeo e estudava os movimentos escondido. Foi minha vivência no universo gótico que me influenciou a procurar danças orientais. Não o contrário e por nenhum outro motivo. Fanática p

elo Dead Can Dance, eu não via outra forma de explorar as músicas a não ser com dança do ventre. Nunca achei que isso fosse dar certo. Qual não foi minha surpresa qdo o grupo de teatro acabou e continuei "carreira solo"???????? ( hahaha, uma verdade com dose de piada, ok?)

Minha primeira apresentação foi com uma música do Collection D'Arnell~Andrea ( gravei recentemente uma tentativa de reprodução da performance, já que na época eu nem sonhava em ter câmera). Se é bom p/ dançar??? NÃO! rs... até hj me perguntam de onde tirei akilo. Foi muito inusitado. Minha roupa se resumia a uma saia indiana estampada, um top bordado preto ( q era maravilhoso, lindo!), uma correntinha nos quadris e um par de luvas de renda. Nada a ver uma coisa com outra. rsrsrs... Depois comecei a fazer roupas tradicionais e mais luxuosas ( sou estilista, néééé???), mas em tons de roxo, vermelho e preto. Ainda não existia tribal fusion no Brasil. Passei a utilizar exclusivamente músicas do Dead Can Dance e mais tarde, quando a coisa espalhou e todo mundo dançava DCD, passei a utilizar outras músicas.


Me apresentei

em diversas casas e festas entre 1995 e 2000, e nessa época comecei a ganhar alguns concursos e me dedicar mais ao estudo da dança oriental. Acabei me decepcionando com algumas "seguidoras" q estavam usando a dança para um lado vulgar e promiscuo, fikei chateada com isso, e os cachês dos restaurantes e das festas na colônia árabe me atraíram_ não que eu faça por dinheiro, eu danço por amor, mas a essa altura eu já podia me considerar uma profissional e é justo cobrar pelo meu trabalho. Entre 2001 e 2004, me dediquei muito ao estudo da dança do ventre tradicional e a me apresentar profissionalmente. A dança do ventre gótica não tem espaço em eventos árabes, e até então não tinha nos eventos de dança também. Já fui impedida de dançar no estilo em eventos ( tipo os MPs genéricos q temos por ai), inclusive. E qdo consegui fazer uma coisinha ou outra, fui arduamente criticada. Acabei dando um tempo mesmo, fiz poucas apresentações nesse período, quando dava aulas no espaço da Valéria Jouze, em caráter experimental, com a banda do meu ex. Ela sempre abriu espaço para trabalhos diferentes, porém com qualidade.
Eu nem pensava em voltar, qdo uma pessoa que queria um show PROFISSIONAL E DIFERENCIADO entrou em contato comigo, por volta de 2004. Conversamos e ele disse q keria um trabalho de qualidade, diferente de tudo o que estava rolando por aí, e meses depois lá estava eu dançando de novo. Esse período no qual estive afastada foi o de maior crescimento da GBD no Brasil. Foi um boooooooom junto com o boom da novela o Clone, e o estilo foi sendo incorporado por cada vez mais gente, e voltei em uma realidade completamente diferente. Realmente, a gente precisava apresentar um trabalho diferenciado, e que deu super certo! E decidi me dedicar à divulgação de uma Dança do Ventre Gótica séria, técnica, arrojada, em vez de continuar dando

espaço a coisas mal feitas que só geram mais e mais preconceitos contra os poucos que realizam este trabalho sério. Decidi fazer pela dança, pela cena gótica e pelas pessoas que lutam contra o preconceito q existe contra nós.


Logo em seguida engravidei e encontrei uma nova fase em minha vida. Hoje tento equilibrar meu tempo entre os cuidados de minha filha e a dança, e me dedicar em partes iguais à Gothic Bellydance, à Dança do Ventre Egípcia, ao Dabke, ao Tribal Fusion e à Yoga. Não dá mais para tapar um buraco destapando outro. Tudo isso faz parte de mim. Ah sim, nessas idas e vindas fiz dança contemporânea, Flamenco, dança moderna, dança cigana, e pretendo retomar. Continuar dançando com qualidade, para mim, é um serviço de utilidade pública, kkkkkkk... Atualmente, faço aulas de Yoga, Tribal e Dança Indiana. Dou aulas de Dança do Ventre no ABC e faço workshops para me aprimorar.

Depois de ler tudo isso, vocês podem imaginar o q esse estilo representa para mim... Foi algo q aconteceu com tal naturalidade, que fica difícil de explicar. É meu lado espontâneo. Diz muito sobre quem eu sou. Quando me visto de dourado, passo baton e danço uma música árabe sorindo, é uma personagem, uma personagem que amo, mas é a Zahrah, a bailarina oriental que criei. A Silvia, é essa, que dança, tem a dança em si, mas que tem o lado sombrio e que prefere a pista do extinto Madame Satã a um palco iluminado, que prefere dançar cara a cara com seus semelhantes a estar em evidência, que prefere dançar um conflito.... O Gothic Bellydnce foi a brecha que encontrei para expressar quem eu sou.

O público??? As pessoas mais maravilhosas que já conheci! Já dancei em open bar perto das pessoas, e mesmo estando num espaço cheio de bêbados fui respeitada. Nunca tentaram colocar dinheiro na mnh roupa, mexer no meu kblo ou invadiram meu espaço numa festa gótica, são pessoas que possuem educação e cultura ou que TENTAM isso pelo menos. Os góticos são geralmente mais educados que a maioria da grande massa. Ah, sim.... Em um show recente invadiram a pista, acontece... Mas não foi nenhum tarado, rs, foi uma garota que queria aparecer... Só isso.

Infelizmente, as pessoas que organizam as melhores festas góticas não dispõem de muita verba, e um trabalho verdadeiramente profissional fica difícil nessas condições. Bom, eu não posso dançar em troca de algumas cervejas... Infelizmente, tem quem se sujeite a isso. É uma triste realidade, pois quando isso acontece a qualidade da dança também fica comprometida.

Histórias curiosas tem várias... a começar pela minha primeira roupa e da música difícil, q ja contei, os fãs estranhos, rs... Tem uma menina q me viu dançando numa balada em Ribeirão e não sai do meu pé até hoje!!! ( ai, espero q ela não se ofenda se ler, rs... somos amigas), teve um fã que descobriu onde eu morava, enfim... tem mais coisa engraçada do que problemas e dificuldades comuns à carreira para contar....


Eu imagino que eu tenha me consolidado como performer gótica e que meu trabalho esteja ativo há tantos anos pela seriedade e pelo amor que coloco no que faço. E essa é uma história que não pretendo concluir tão cedo, apesar dos modismos e do preconceito.



domingo, 2 de agosto de 2009

Ainda sobre GBD: os estilos

Respondendo à pergunta da minha amiga Clarissa, feita em uma das comunidades do orkut das quis participo... E complementando o texto anterior. Perguntas são sempre bem- vindas!

( ATENÇÃO, CUIDADO!!! PAGA- PAUS, PESSOAS SEM CRIATIVIDADE E PSEUDO- PROFESSORAS, AO COPIAR, RESUMIR, PARAFRASEAR OU CITAR TRECHOS, LEMBREM- SE DE CITAR A FONTE! Todos os meus textos são originais e a Lei me protege contra pessoas mal- intencionadas!)






"Tribal Gótico x Dark Fusion x Gothic Bellydance

queria saber o que é cada um, a diferença e semelhança entre esses estilos."

Primeiro, o Gothic Bellydance ou Dança do Ventre Gótica: O início de tudo. Quando este estilo começou a surgir nas festas e casas góticas pelo mundo, não havia uma regra, do tipo " tem que ser fusion, tem que ter base de ATS, tem técnicas específicas". Simplesmente pegávamos as músicas góticas com influências orientais e dançávamos o que sabíamos. Esse nome envolve os outros estilos também, ou seja, o Gothic Fusion e o Dark Fusion também são Gothic Bellydance. Neste estilo, é permitido o uso de acessórios como snujs, candelabro, cimitarra, véus... Qualquer acessório que combine com a temática. NÃO ME INVENTEM DE DANÇAR COLLIDE COM BASTÃO!!! hehehe...
Exemplos de bailarinas de Gothic Bellydance são Jeniviva, Blanca, e a maioria das ( poucas) brasileiras.

Gothic Fusion ou Tribal Gótico é como se fosse uma evolução dentro da própria Gothic Bellydance. Estilo ma
is atual, abrange passos de outras danças e possui influências do ATS e do Tribal Fusion. Quem denomina sua dança como Gothic Fusion são Sashi, Haalima, Alicia, Ashara.

Dark Fusion é muito parecido com o Gothic Fusion. As diferenças são muito sutis. Assim como o Gothic Fusion, possui estética obscura e carga dramática, com influências do Tribal Fusion. É o estilo que ficou mundialmente conhecido através da Ariellah e que vem sido copiado por muitas performers recentemente.

- Gothic Cabaret e Dark Cabaret: Ironicamente, um novo estilo, mas que possui origem nos Beatniks, que são os precursores do gótico: eram pessoas com gosto pelo cabaret, boêmia e excessos, um movimento paralelo ao Hippie nos anos 60. A grosso modo, é a união da estética Gótica com o Vintage ( anos 40/ 50), porém existe um fundamento cultural para tal união. Ainda é um estilo pouco conhecido, mas está em ascenção.

Como eu já disse na postagem anterior, não existe nenhuma técnica específica para o Gothic Bellydance. É uma dança lírica, dramática, até exagerada, que deve ser executada com cautela para não ficar caricato. O ponto comum entre todos os estilos é essa teatralidade, dualidade e estética obscura. O que diferencia os estilos nomeados por "Fusion" é o uso de técnicas de Tribal. E o que diferencia o Dark do Gótico é uma sutileza que somente quem VIVEU isso consegue entender, mas são difíceis de ser explicadas...

( Texto original desenvolvido por Zahrah_ Silvia Fasioli)