Para quem estudo dança isso pode ser claro. Mas, acreditem, o número de leigos, aprendizes e bailarinas que são SÓ de dança do ventre tradicional ( não tribal) que acham que é tudo a mesma coisa é impressionante. Não, não que seja ruim, desde que perguntem, e algumas pessoas têm me perguntado isso. Então o texto não será muito interessante para quem já estuda Tribal.
Resumindo, o tribal Fusion é um braço do ATS ( American Tribal Style). Possui base de Dança do Ventre, funde- se com outras danças orientais e com técnicas de Popping e Locking ( que por sua vez tem sua origem no Street Dance). Por ser uma fusão em sua essência, permite incorporar outras danças, como cigana, indiana e flamenca, por exemplo, e estéticas diferenciadas, como o Gótico e o Vintage por exemplo. O figurino deve ter a ver com o tema ou a dança usados para a fusão. Vejam bem, não são todas as bailarinas que usam roupas pretas e tatuagens, como Rachel Brice, nem as calças com liga da Zoe Jakes, cada detalhe deve ser pensado.
Gothic Bellydance já é outro departamento! Neste mesmo Blog, eu disponibilizo textos mais completos, podem procurar no histórico e conferir! Esta foi uma dança criada por performers góticas para se apresentar em casas e festas voltadas para este estilo, baseada na Dança do Ventre tradicional e inspirada na estética e música góticas. Não é uma técnica específica, é um estilo pessoal. Onde está a confusão? Algumas bailarinas incorporaram o Tribal ao Gothic Bellydance, fazendo apresentações de Tribal com a estética gótica, surgindo assim o Dark Fusion e o Gothic Fusion.
Para esclarecer melhor sobre o Tribal em si, estou postando um texto de Shaide Halim, para quem já pedi ( e ela gentilmente autorizou a postagem).
CONHECENDO AS DANÇAS: ESTILO TRIBAL
O estilo tribal evoca uma história de milhares de anos sobre trajes, jóias, dança e música do Oriente Médio, com uma essência moderna, enfatizando a força do corpo e do espírito feminino e sua interação com o grupo.
Os "primeiros passos" dessa forma de dança foram dados na Califórnia, pela bailarina Jamila Salimpour. A Dança do Ventre tradicional foi acrescida de elementos das danças folclóricas orientais, como seus objetos e passos característicos, e o espírito comunitário das tribos.
Trocaram o vestuário do estilo "cabaré" (as conhecidas roupas de lantejoulas!) por um visual étnico. Aliado à isso, vinha o novo estilo de ensino, onde Jamila refinou a técnica da Dança do Ventre usando métodos semelhantes aos do Ballet Clássico. Sua companhia de dança, Bal Anat, popularizou a nova tendência, principalmente os trajes étnicos. A dança tinha um caráter interpretativo, com uso de acessórios tradicionais das danças folclóricas ou uma releitura de lendas orientais, como por exemplo, a nossa conhecida Dança da Espada. Esta dança não é reconhecida nos países árabes como folclórica, mas é conhecida por todas as bailarinas de Dança do Ventre graças ao Estilo Tribal.
Nos anos setenta, notáveis dançarinas do gênero fizeram com que este estilo ganhasse o país, entre elas Masha Archer, discípula de Jamila. Nos anos 80, o estilo ganhou características muito particulares, que foram definidas quase como "padrões", com o surgimento da trupe Fat Chance Belly Dance. Carolena Nericcio, diretora do grupo, foi aluna de Masha e dá todo o crédito pelo surgimento desse novo estilo à Jamila, embora seu grupo seja, hoje em dia, a maior referência do assunto nos EUA. Carolena misturou a precisão técnica de Jamila, o caráter étnico do Bal Anat e aplicou seu sistema de improvisação, criando assim uma nova forma de dança.
O Estilo Tribal Norte-Americano
Precisão dos movimentos, trajes muito característicos e o espírito de irmandade tribal são a marca registrada desse gênero. Ritmos fortes e bem marcados, com muita percussão, solos de derbake e daffs, os sons "Ghawazee" (as ciganas egípcias, a fonte maior de inspiração dessas trupes), a fusão entre diversos estilos musicais, por vezes com um toque ocidental, dominam o padrão musical que acompanha esta dança.
O visual do Estilo Tribal parece autêntico porque foi inspirado em várias tribos e povos nômades do Centro e Norte da África, Índia, Paquistão e de várias outras regiões do Oriente Médio, adaptadas às necessidades das dançarinas, que precisam de roupas que lhes dê mobilidade e conforto. O uso freqüente de snujs em suas performances também caracteriza o estilo norte-americano. Eles servem não só para demonstrar as habilidades técnicas das dançarinas, mas também para auxiliar a marcação dos ritmos. Além deles, algumas bailarinas fazem uso de chocalhos kuchis (chamados Kulkaal), atados aos pés, como as dançarinas indianas ou as ghawazee egípcias, também para demarcação rítmica. Algumas trupes utilizam outros acessórios característicos de outras danças orientais, como pandeiro, bengala, jarros, cestos, taças, espadas, punhais, para realizarem performances que são chamadas tribais interpretativas.
O Fat Chance Belly Dance, por ser o pioneiro no estilo, é o mais conhecido e reverenciado grupo tribal da América, mas há outras grandes trupes espalhadas pelos EUA, como a Awalin Trupe, Read my Hips, Hahbi-Ru, Gypsy Carvan etc. O Estilo Tribal Americano já atravessou oceanos e chegou à Alemanha, Suíça, Austrália, Japão, França e Inglaterra, e chegou ao Brasil, em 2001, por meio da Cia Halim Estilo Tribal, a primeira trupe desse estilo por aqui , com método de ensino e de dança próprios, denominado estilo tribal brasileiro.
As novas tribos
Com a evolução e propagação da Dança Tribal na América do Norte, novas cias. de dança auxiliaram o processo de formação do Estilo, dando, cada uma, seu toque pessoal às características tradicionais do American Tribal Style. Surgiu então, no início dos anos 90, o que hoje ficou conhecido por Neo Tribal. O Neo Tribal seria a modernização do Estilo Tribal Americano do Fat Chance Belly Dance. Bailarinas formadas pelo método de Carolena Nericcio e suas discípulas resolveram buscar novas formas de utilização das técnicas do Estilo Tribal, sem uma rigorosidade padronizadora. Cias. mais tradicionalistas no América Tribal Style recusam-se a utilizar recursos coreográficos e todas as suas performances são livres ou reguladas pelos métodos de sinalização, gerando a Improvisação Coordenada.
Cias. como a Awalin Dance Company de Zia Ali, na Geórgia, Atlanta, traduzem bem este espírito Neo Tribal: aliam às técnicas de Improvisação Coordenada as possibilidades artísticas coreográficas. Ademais, além do uso dos acessórios da dança do ventre e danças folclóricas orientais, buscam inovações não apenas em acessórios, mas na utilização de movimentos oriundos de outras danças, além das habituais, como o flamenco, a dança indiana, danças persas, trcas, paquistanesas, e de regiões até mais longínquas como, por exemplo, o Tajisquistão.
Estilo Tribal Brasileiro
A Cia Halim aderiu a esta nova corrente, a de modernização do estilo, buscando em diversas formas de dança, até mesmo no Ballet e na Dança Contemporânea uma nova forma de dançar e se expressar.
Além disso, adotamos uma postura de valorização das nossas raízes, inserindo no contexto elementos da nossa cultura popular brasileira, com utilização de ritmos e movimentos nacionais, como o côco, maracatu, frevo, caboclinho, tambor de crioula, deixando o estilo tribal com uma nova cara, uma nova roupagem, que vai desde os passos das coreografias à musicalidade e figurinos.
Mas o diferencial do estilo brasileiro é uma maior homogeneidade da fusão. Um trabalho coregráfico nesse estilo aborda, com maior detalhamento, cada dança que trabalha. Exemplo: não é uma dança onde a dança do ventre é o carro-chefe e as demais modalidade aparecem em pequenas doses, como acontece no estilo norte-americano. Uma coreografia de estilo tribal brasileiro pode apresentar muito flamenco e pouca dança do ventre, além da dança indiana. Ou dança indiana e dança do ventre bem misturadinhas, com um pouco menos de dança brasileira. Isso porque o processo de criação coregráfica segue exatamente o que pede a música. Numa música aflamencada, é normal que o flamenco seja o destaque, ou numa música bem misturada, é normal que se veja, em doses iguais, várias danças, sem que a dança do ventre seja sempre o destaque, como acontece no tribal norte-americano.
Técnica de Ensino
O Estilo Tribal é reconhecido por sua precisão. Os movimentos são treinados continuamente até que sua execução esteja adequada, aliado a um trabalho de construção muscular. Muitas dançarinas tribais estão envolvidas com outras formas de movimentos, como Yoga, Dança Indiana, Flamenco, Jazz, Dança Moderna ou Ballet, e isso contribui para que as técnicas dessas outras atividades contribuam para a dança do ventre. Além da repetição contínua dos movimentos, técnica comum ao Ballet Clássico, a postura da dançarina é essencial para que se caracterize o estilo. Sempre altiva, braços alongados, tem algo que nos faz lembrar outra dança com fortes influências ciganas, o Flamenco.
Mas essa postura corporal não é por acaso. Professoras de dança do ventre tradicional testaram e comprovaram que os movimentos ondulatórios no tribal são muito maiores que na dança do ventre normal. A postura tribal dá maior dimensão ao movimento, mas também exige mais força. Se você aplicar uma determinada força para realizar a mesma ondulação, na posição normal e na posição tribal, sentirá que na tribal o trabalho abdominal será mais intenso e o efeito do passo melhor visualizado. É preciso pensar em manter a região abdominal contraída. Não é "encolher" a barriga, e sim trabalhar a contração através do controle do diafragma, associado ao controle da respiração. E é preciso capacitar a musculatura, para que se tenha domínio dos movimentos sem perder a postura. Também é imprescindível alongar os músculos freqüentemente.
Para obter movimentos de maior efeito, alia-se o jogo de quadril ao emprego da força dos músculos, como para "jogar" os quadris mais longe nas batidas, obter um shimie estático ou rotacional de maior efeito, deslocamentos em shimie com velocidades maiores sem perder o tamanho do movimento, oitos que se distanciem mais ainda do eixo natural etc. Alguns truques de posicionamento das pernas são usados para ampliar esses movimentos de quadril e também servem como trabalho muscular.
Provavelmente vai ser mais difícil realizá-los no começo, assim como as ondulações na nova postura, mas isso acabará beneficiando a bailarina, que com o tempo terá um corpo muito melhor preparado para enfrentar longas horas dançando. Além disso, numa aula de Estilo Tribal você não aprende apenas os movimentos da dança: cada passo é estudado juntamente com suas possibilidades dentro da performance e suas diferentes combinações.
Técnica do Estilo Tribal Brasileiro
Ainda falando em técnica, a técnica da dança tribal também é uma big fusão. Com uma postura corporal diferenciada, os movimentos ganham novos contornos. Trabalha-se força e resistência, alongamento, flexibilidade, capacidade respiratória, muito, muito, muito giro. Na Cia Halim, nossos movimentos são direcionados de acordo com o estudo da biomecânica da dança, em parceria com profissionais da área de saúde (fisioterapia, ortopedia, pneumologia). Para desenvolver movimentos grandes, com vitalidade, sem prejudicar o bailarino que o executa.
Nos nossos cursos, o aluno aprende movimentos de diversas modalidades de dança, exatamente como estas são realizadas em sua dança tradicional, como, por exemplo, a dança do ventre, o flamenco, a dança indiana, o ballet (para os muitos giros!), as danças brasileiras, o contato-improvisação, etc. E uma vez que o aluno compreende que cada dança tem sua intenção de movimento diferenciada, ou seja, movimentos que parecem ser semelhantes, em cada dança são realizados de uma maneira diferenciada, ele é capaz de mistura-los em sua composição coreográfica tribal sem com isso perder a essência da dança aplicada na fusão.
xemplos: a intenção de uma batida de pé na dança indiana é muito diferente da flamenca, mesmo quando os movimentos parecem iguais. Em cada uma a intenção do movimento segue um rumo diferente, parte de uma musculatura diferente etc. Não adianta fazer um paseo flamenco como se fosse um deslocamento da dança do ventre, pois cada um trabalha com uma postura própria. Então, para saber utilizar danças diversas em uma só dança, é preciso saber que cada uma tem uma forma própria de realização dos movimentos. Assim, a fusão fica coesa e realmente é possível se compreender que se trata de uma fusão de culturas, e não apenas de movimentos feitos aleatoriamente, como um arremedo mal executado de danças variadas.
Desvelando o Estilo Tribal
1. O Estilo Tribal é chamado por muitos nos EUA como fakeloric, que seria falso folclore. O figurino desta dança, e as várias referências em movimentos de diversas manifestações folclóricas de origens variadas, faz com que muitos desavisados pensem que se trata de uma manifestação folclórica original. MAS NÃO É!!!! Justamente por ser uma fusão de danças, apenas os movimentos, acessórios, elementos e peças do vestuário são utilizados, não se mantendo tradições. O que seria até mesmo um desrespeito com as culturas envolvidas. Portanto, são estilizações e não reproduções fiéis. A própria mescla dos movimentos de culturas diferenciadas nos impossibilita de manter qualquer forma de tradição.
2. Homens dançam!!! Sim, nos EUA há grupos que não aceitam homens dançando por uma opção de querer trabalhar apenas entre mulheres, mas há trupes que permitem que homens participem e há trupes apenas formadas por meninos. Isso varia de acordo com o sub-estilo da trupe dentro do Estilo Tribal. Há grupos que preferem centrar suas pesquisas na Dança Oriental e orientam seu trabalho de acordo com as bases desta dança. Mas grupos com membros masculinos não são vistos como "estranhos" ou renegados. A Bal Anat, a primeira trupe tribal do mundo, criadapor Jamila Salimpour no início dos anos 70, tem homens no casting, assim como outras, como a Habi Ru, embora a movimentação masculina não seja igual à feminina.
3. Na dança tribal trabalha-se a técnica de diversas danças de diversas culturas, portanto, é uma dança neutra em relação à tradições, como já foi citado anteriormente. Trupes de dança tribal enfatizam o espírito de união, o grupo , a dança comunitária. Ponto. Não há referências à mistificações, simbologias ou religiosidade que possa fazer parte de alguma dança utilizada no quadro de fusões. Se uma determinada trupe resolver direcionar seu trabalho com um caráter diferenciado será uma opção única e exclusiva daquele grupo.
4. Grupo. União. Comunidade. Palavras-chave que definem o estilo. O nome Estilo Tribal já vem, obviamente, de tribo. Até bem pouco tempo atrás não existia dançarina de tribal, apenas trupes tribais. Hoje em dia isso vem se modificando, mas ainda é muito mais bonito de se ver trabalhos em conjunto, sejam duos, trios ou grandes grupos.
5. Último e acho que mais importante tópico: dança tribal é para todos. Homens e mulheres, de qualquer idade, raça, credo e biotipo são bem vindos nessa modalidade. Não é preciso ter corpo de sereia, nem ter cabelão, beleza padrão, nada disso. Basta ter a técnica apropriada e amor pela dança. Sim, pois só com amor e dedicação o bailarino consegue alcançar a técnica ideal. Nada cai do céu, nada é fácil, é preciso esforço para dançar!
( Shaide Halim)
Para saber mais:
http://tribalnobrasil.multiply.com/
http://www.shaidehalim.blogspot.com/