quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Ariellah no Brasil: UM CHUTE NA CARA DO PRECONCEITO


Sendo este um espaço voltado PRINCIPALMENTE ( e não somente) para o Gothic Bellydance, nada mais propício do que postar minhas impressões a respeito do workshop de Ariellah Aflalo, a mais reconhecida bailarina dentro do estilo_ segundo ela, Dark Fusion, um dos braços do Gothic Bellydance.

Aviso: são impressões pessoais, nada além disso. Minhas opiniões não são verdades absolutas, bem como nada é.


Confesso que Ariellah nunca foi minha bailarina preferida. Sim, reconheço sua técnica e talento, já gostava e admirava sua dança, me interessei por fazermos parte do mesmo estilo... mas nada assim... de babar, sabe? No final das contas, tudo conspirou a favor para que eu estivesse lá no workshop e fui fazer sem grandes pretensões.

Até então, eu convivia com os narizes torcidos, caretas de reprovação, comentários depreciativos e preconceitos acerca do Gothic Bellydance, suas derivações e bailarinas. E fui com um certo receio de, de repente, surgirem fórmulas mágicas para uma técnica que não existe. Dança do Ventre Gótica não tem técnica específica, e sim, eu e algumas amigas fizemos este questionamento. Como ia ser? Gelei na hora que ela entrou com cara de poucos amigos: "Pronto, só falta ela ser poser, fudeu!". Eis que ela se senta no palco e diz "Oi!" ( assim, em português mesmo), e continua em inglês: " Estou muito feliz por estar aqui..... mas.... Perderam minha bagagem, estou muito muito triste..."

Pronto, o gelo foi quebrado, e a cara de malvada totalmente explicada. Ela começou a mostrar as roupas enormes que a Sharon emprestou ( a Ariellah é mignon e a Sharon Kihara tem mais ou menos 1, 80m.), e esses 5 minutos foram o suficiente para que eu me apaixonasse completamente por ela!


A aula começou com condicionamento baseado na Yoga, o que me deixou muito feliz porque, além dela demonstrar conhecer o assunto era bem parecido com o que dou em aula... Escolheu exercícios bem específicos para trabalhar o que usamos na dança. Seguiram- se exercícios de isolamentos e treinos, putaqueopariu, vai fazer movimento difícil assim lá na China!!! Desci rapidinho do meu salto de mil anos de dança, satisfeita por ter sempre o que aprender! Depois do workshop, na hora da foto, um elogio... e me trava a língua! Fiquei sem voz, sem conseguir falar nem em inglês nem em português, e ela perguntando para minhas amigas: "Alguém aí fala inglês?"

Segundo dia... nada dela comentar sobre Gothic. Tentei falar com ela mas não deu, não fui a única que ficou encantada com sua figura singular. Bom, eu só queria saber se a bagagem foi encontrada e concluí que sim: ela estava com roupas adequadas ao seu tamanho....



Novamente, os treinos, mas mais rápido, só para aquecer. Nesse dia, ela começou a trabalhar nossos braços. Não só a técnica, mas expressão, e parava para vermos se nossos braços estavam como queríamos. Muito legal isso. Ela deu uma pequena coreografia. Nada de estereótipos nem teorias góticas. Ela colocou aqueles braços que são sua marca registrada na coreografia, que nada mais são que braços de dança com o jeito dela, com seu estilo... Suavidade, docçura e delicadeza soavam em cada palavra. À noite seria o show de gala. Ah, o show.... um capítulo à parte. Surpreendentemente, ela foi o destaque da noite. Não que ela não mereça. Merece, e muito, cada olhar, cada palma, cada suspiro, cada lágrima, cada coração acelerado... O que me deixou espantada foi ver ali uma representante nossa ( me enquadrando como performer gótica/ dark) sendo ovacionada pelo crítico público da dança. Os comentários?

"Ela é uma atriz! Uma verdadeira artista!"
"Tão doce no trato pessoal e tão forte em cena... Como pode?"

Esse foi o comentário geral do público que a aplaudiu de pé por intermináveis minutos, enquanto ela voltou ao palco tímida, amparada por Mardi Love e Sharon Kihara.







No último dia, sala lotada... Quem ainda não tinha se rendido e se interessado estava lá. Foi instalado um projetor de imagens. Medo! Ela tinha prometido falar sobre Gothic.... será que ia se aventurar a explicar o inexplicável. Não. Aula teórica sobre composição coreográfica. Maravilhosa, completa, consciente, coerente... Deu expressão, idéias para dispor bailarinas no palco, contagem musical com leitura de nuances, e o vídeo exemplificava como fazer o desfecho do show... Respondeu educadamente e brevemente os questionamentos sobre o Gótico. Definiu sua dança como Dark Fusion, e deixou claro: "Não posso ensinar ninguém a ser gótico. Busquem o sentimento dentro de vocês. Eu até gosto que me imitem, mas não fica natural." Ficou a mensagem de que temos que tirar o que somos e queremos mostrar de dentro de nós, e não buscar isso nos outros. Mensagem esta que certamente não foi compreendida por todos...

As mesmas pessoas que outrora criticavam o estilo se tornaram adeptas, e mais e mais bailarinas estão passando a imitá- la, mesmo ela dizendo que não fica natural...

Ah, sim! Faltou mencionar que ela fez o workshop da Mardi Love lá no meio da gente, de boa... Na maior humildade...

Impressão cada um tem a sua. Eu costumo ver tudo de maneira muito complexa e profunda. É uma pena que muitos estejam agindo assim: "Ela é cool! Vamos copiar!!!", mas coisas superficiais tendem a ser passageiras, então não vamos nos prender a isso... Para mim, a passagem de Ariellah pelo Brasil teve significado especial. Ela mostrou que góticos não são ETs carrancudos, mal- humorados, esquisitos e malvados com seu jeito doce de tratar as pessoas e a preocupação conosco_ chegou a imprimir o conteúdo das aulas p/ que a gente não precisasse anotar. Mostrou que bailarinas não são deusas intocáveis, elas perdem a mala, mostram o dedo do meio e se emocionam. Mostrou que o Dark Fusion não é uma coisa inventada nas coxas, um tribal mal feito como muitas o tratam, com sua técnica impecável em todos os sentidos. Cada atitude dela mostrava profissionalismo e consciência. Uma verdadeira lição para nós, que muitas vezes deixamos o ego falar mais alto que o bom senso. Todo este conjunto ( sem contar sua autenticidade) concede a ela algo qçue acredito que todas nós, artistas da dança ou não, buscamos: luz e brilho próprios! Um brilho tão especial que tive que esperar um mês para escrever sem tanta carga emocional.

Para todos aqueles que criticavam o Gothic Bellydance sem conhecer direito ( para quem conheceu e continua não gostando dou a mão), para todos que divulgaram uma dança mal feita, sem alma e sem técnica como sendo GBD, para todos que riram e depreciaram nossa classe... Bom... Quem esteve lá conhece uma boa resposta...

Um comentário:

  1. Perfeita esta sua visão sobre o conteudo das aulas da Ariellah,ela veio pra mostrar que todas nos somos,alem de bailarinas,pessoas de atitude.Meu conceito sobre coreografias foi redefinido depois da aula dela,no ultimo dia do evento.
    Bjos e sucesso com o blog.
    Bjos

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